Milhares de pessoas saíram às ruas em França neste sábado para uma manifestação contra a extrema-direita, numa altura em que o país se prepara para iniciar as eleições legislativas no fim deste mês.
Segundo a central sindical CGT, terão participado cerca de 650 mil pessoas nas manifestações espalhadas pelo país, enquanto as previsões da polícia dizem que cerca de 250 mil pessoas se manifestaram este sábado. Só em Paris, de acordo com a CGT, terão saído à rua 250 mil manifestantes, sendo que as estimativas da polícia apontam para que somente 75 mil se tenham manifestado na capital francesa. Para além da capital, registaram-se 145 marchas espalhadas entre várias cidades em França tais como Marselha, Toulouse, Lyon e Lille.
A marcha parisiense iniciou-se na Praça da República, uma das praças principais da cidade, com os manifestantes presentes empunhando cartazes de palavras de ordem não só contra a extrema-direita e a União Nacional, partido de Marine Le Pen que está em primeiro nas sondagens, mas também contra o Presidente,
Emmanuel Macron.
A manifestação de Paris reuniu vários grupos políticos e sindicais ligados à esquerda, tais como as duas maiores centrais sindicais CGT e CFDT, assim como uma forte presença de membros e apoiantes da Nova Frente Popular, formada esta semana, com o objectivo de unir uma série de partidos da esquerda para se apresentarem às eleições deste mês.
Na Praça da Bastilha, alguns manifestantes grafitaram insultos contra Jordan Bardella, líder da União Nacional, bem como a frase “Gaza Livre”. Duas pessoas subiram à base da estátua no centro da praça e mostraram um cartaz de apoio à Nova Frente Popular onde se lia: “Comprometemo-nos solenemente a permanecer unidos para desarmar Macron e a extrema-direita”.
Acusações de purga
Porém, sobre a presença na manifestação da Nova Frente Popular na manifestação, paira uma nuvem negra causada pela crise interna existente na França Insubmissa (LFI), um dos principais partidos da união das esquerdas.
Várias das principais figuras do partido não foram apresentadas como candidatos da LFI nas listas da Nova Frente Popular o que levou a acusações de que o fundador e principal figura do partido Jean-Luc Mélenchon estaria a realizar uma “purga” na LFI.
“A extrema-direita está à nossa porta. A nossa responsabilidade é histórica. E o que estão a fazer os líderes da France Insoumise e Jean-Luc Mélenchon? Uma purga de deputados empenhados na unidade”, criticou, na rede social X, a deputada do partido Danielle Simonnet, uma das excluídas pela liderança do partido.
Raquel Garrido, actualmente deputada da LFI, escreveu na sua página da rede social X que está a pagar pelo “crime de lesa-Mélenchon” ao ser excluída das novas listas.
“Que vergonha, Jean-Luc Mélenchon. Isto é sabotagem. Mas eu farei melhor. Nós faremos melhor”, acrescentou, tendo criticado os “métodos nojentos” do partido.
Aos jornalistas presentes na manifestação, Garrido afirmou que seria, no entanto, a candidata da Nova Frente Popular ao seu círculo eleitoral sem o apoio do partido e de Melenchon, sendo que o partido anunciou um outro candidato no lugar da actual deputada.
Presente na manifestação, François Ruffin, figura popular e líder do Picardie Debout, um pequeno partido regional que faz agora parte da Nova Frente Popular, pediu, à france info, que a sua “família” partidária “se aperceba da gravidade da situação”.
“Não podemos perder tempo a destruir-nos uns aos outros”, disse ainda, tendo acrescentado que a esquerda tem de “deixar-se de tretas” e unir-se, demonstrando apoio aos “cinco purgados da França Insubmissa”.
Entretanto, à direita, o conflito no partido conservador de centro-direita Os Republicanos agravou-se ao ser aceite o recurso proposto por Eric Ciotti, que havia sido expulso do partido pelo conselho nacional do partido, o que levou à sua restituição como líder d’Os Republicanos.
“O tribunal de Paris suspendeu o processo da minha expulsão d’Os Republicanos. Por conseguinte, continuo a exercer as minhas funções de presidente do partido”, escreveu Ciotti na rede social X.