O FC Porto anunciou, num comunicado publicado esta terça-feira, 18 de Junho, que o clube não tem capacidade financeira para concluir o processo de compra dos terrenos para a academia na Maia, abandonando a ideia de construção deste complexo. Esta foi uma das principais bandeiras de Pinto da Costa antes das eleições, mas as promessas feitas pelo antigo dirigente não foram cumpridas.
“Para além de se ter verificado que, surpreendentemente, não existia qualquer plano concreto de viabilidade financeira para a construção do centro de treinos na Maia, veio também a verificar-se que a anterior Administração da SAD do FC Porto havia já falhado o pagamento da segunda prestação relativa ao procedimento de hasta pública para a aquisição dos terrenos ao Município da Maia”, pode ler-se no comunicado.
Assim, não há “possibilidades financeiras de dar continuidade ao processo tendente à aquisição dos terrenos em causa”, sentencia o FC Porto.
O cheque de 510 mil euros passado pela anterior administração do FC Porto à Câmara Municipal da Maia, relativo à compra dos terrenos municipais reservados à construção da academia dos “dragões”, não tinha cobertura. A informação foi avançada pelo jornal Registro e confirmada pelo PÚBLICO.
Ainda antes de André Villas-Boas ter assumido a gestão da SAD portista, a autarquia tinha já falado com Pinto da Costa e Fernando Gomes sobre a falta de cobertura do cheque. Do lado dos “azuis e brancos” terá saído a garantia de que a situação seria regularizada, conforme foi dito ao PÚBLICO por fonte ligada ao poder autárquico. Contudo, a irregularidade manteve-se e o referido cheque permaneceu sem fundos. Agora, o tema foi novamente discutido em assembleia municipal.
No total de 23 hectares reservados para a academia portista na Maia, 14 são da própria autarquia. Segurados em hasta pública através de uma proposta de 3,4 milhões de euros, os “dragões” assinaram ainda um contrato com a construtora ABB pelos restantes nove hectares – cujo valor ainda não é conhecido.
No final de Maio, Francisco Vieira de Carvalho, vereador do Partido Socialista (PS) na Câmara Municipal da Maia, acusou a autarquia, em declarações ao PÚBLICO, de não ter esperado pelo resultado da votação em assembleia municipal para comunicar oficialmente a aprovação da hasta pública, algo que permitiu a publicação em Diário da República deste tema meras horas após a deliberação.
“Vou convocar uma reunião de câmara extraordinária para ver este ponto. O presidente pode assumir que houve um lapso, mas, em termos legais, a data de 22 de Março é nula”, adiantou o vereador, dizendo que esta foi a “hasta pública mais rápida de sempre” e que todo o processo podia ser invalidado.
Certo é que o FC Porto já tinha prometido à construtora ABB um pagamento de 6,9 milhões de euros pela terraplanagem dos terrenos detidos pela empresa minhota.
Projecto contestado
Embora já se conhecesse a intenção há muito, o projecto da nova academia do FC Porto só foi oficialmente apresentado pela direcção de Pinto da Costa em pleno período pré-eleitoral, no final de Março. Com ele, o clube pretendia transferir do Olival, em Gaia, todas as camadas da formação do futebol, construindo dez campos, um pequeno estádio e uma residência para atletas. A arquitectura estaria a cargo de Manuel Salgado, que já desenhou o Estádio do Dragão.
André Villas-Boas, que cerca de um mês depois ganharia de forma contundente as eleições para a presidência do clube, manifestou-se sempre contra a transferência para a Maia, defendendo antes a construção de um centro de alto rendimento no Olival, onde o FC Porto já tem instalações. Quando ainda era só candidato, o agora presidente assinou um contrato-promessa de compra e venda dos terrenos necessários à criação da sua ideia.
Contudo, durante a campanha, Villas-Boas prometeu analisar “de forma rigorosa e criteriosa” o projecto da Maia, garantindo que tomaria decisões de modo a salvaguardar os interesses do clube.