O caso das gémeas
O caso das gémeas, que parece reconduzir-se a um caso de solidariedade em que, em substância, não terão sido feridas regras de precedência e de nacionalidade, atingiu já um ponto de saturação irritante. É a novela política do nosso presente. Mais ainda: tornou-se o objecto abjecto do jogo político de certos partidos, como o Chega, lamentavelmente seguido por outros. Como sempre, o que aquele procura é aproveitar todas as oportunidades que vêm à tona para fazer os seus números de circo e brilhar nos ecrãs para a turba. <_o3a_p/>
O que lhe interessa, neste como noutros casos, não é descobrir a verdade, mas criar agitação, fazer demagogia e atingir o coração das instituições democráticas. Aqui, os alvos, como já se percebeu, são o Presidente da República e o ex-primeiro-ministro. Não importa quem possa atropelar no seu caminho, instrumentalizando as pessoas para os seus fins, mesmo que estas se encontrem em situação de fragilidade, como aconteceu com a mãe das gémeas, cujo interrogatório, convertido em espectáculo televisivo, roçou a crueldade e a desumanidade.
<_o3a_p>António Costa, Porto
As guerras
As guerras, quando são desencadeadas por exércitos que combatem uns contra os outros, acarretam enormes perdas de vidas e de bens privados ou públicos. Mas, neste preciso momento, o mundo dos cidadãos observa com estupefacção duas guerras que aparentemente fogem da definição de guerra. Não há exércitos a combaterem uns contra os outros, não há estratégia militar de vitória, não há leis que possam legitimar a destruição e morte provocadas pelo presidente Putin, da Rússia, e pelo primeiro-ministro Netanyahu, de Israel, declarantes destas guerras, há um esmagamento de dois povos provocado pela supremacia do seu armamento. Mas, subjacente às causas desses conflitos, talvez não seja estultícia pensarmos que a indústria de material de guerra, com necessidade de escoar armamento quase obsoleto e de criação de armas novas, esteja por detrás destas guerras, tanto dos declarantes como de todas as outras nações que apoiam ambos os lados, os atacantes e os defensores. É o mundo cão do capitalismo.
Duarte Dias da Silva, Foz do Arelho
Escolhas para a manchete
Ao comprar o jornal PÚBLICO do dia 19 de Junho, eu fiquei surpreso ao olhar para a manchete. Lá estava com grande destaque a vitória (muito sofrida) da nossa selecção de futebol no jogo contra a República Checa. Assisti atentamente ao jogo como muitos e muitas assistiram e fiquei feliz com a vitória da nossa selecção. Mas houve um feito inédito na natação que me deixou muito mais feliz. No dia 18 de Junho a nadadora Camila Rebelo foi campeã europeia nos 200 metros costas, ganhando a medalha de ouro nos Europeus em Belgrado. Nunca tal tinha acontecido na natação em Portugal. A minha surpresa foi que na manchete do dia 19 não havia qualquer referência a este grande feito. Camila Rebelo foi colocada no jornal PÚBLICO numa pequena coluna na página 39, enquanto a selecção portuguesa de futebol teve um enorme destaque na vossa primeira página e no jornal desse dia, apenas porque ganhou o primeiro jogo do Campeonato da Europa.
Duarte Figueira, Oeiras
A Ética em duas histórias
A Ética não é um código de acção, é um referencial de comportamento decente. Vem isto a propósito de duas histórias reais.
Num jardim público com um lago rodeado por um relvado florido, observei um acto decente. Uma pequena tartaruga caiu do murete do lago para o ajardinado. Fica de patas para o ar. Em perigo. Uma jovem acorre, pisa a relva e flores, mas coloca a tartaruga no lago para ela continuar a viver. Aplausos de quem viu. A autoridade do jardim não teve a coragem de actuar. A outra história é conhecida. Uma mãe com filhas em perigo e deputados, representantes do povo. Não merece os meus aplausos, mas merece que se recorde uma máxima ética: “Agir numa pessoa nunca como um meio, mas como um fim.” Vale sempre recordar a Ética e saber manifestar compaixão.
A. Betâmio de Almeida, Carnaxide