De um lado, membros do Governo da Madeira e do PSD; do outro, representantes do IL, PAN e Chega. Após a reunião, o Chega elogiou a abertura do executivo e admitiu viabilizar o programa do governo. Um encontro criticado por Alberto João Jardim, numa altura em que a oposição interna no PSD começa a movimentar-se: “Não é sério, nem competente”.
Ainda assim, a primeira reunião serviu de balão de oxigénio para Miguel Albuquerque. Se à entrada o presidente do Chega-M reiterava a indisponibilidade para apoiar um governo com o social-democrata, à saída já mudou o tom: “O Governo está aberto a negociar, o que já é bom. Em democracia é um sinal de inflexão, de alguma cedência. Esta é a oportunidade de todos os partidos de terem poder”, afirmou Miguel Castro aos jornalistas. A posição do Chega na Madeira tem oscilado entre exigir a saída de Albuquerque para viabilizar um governo do PSD ou abrir a porta a entendimentos caso as propostas do partido sejam aceites.
No final da reunião, que não contou com Albuquerque, Miguel Castro voltou a defender uma mudança na liderança do executivo, mas deu a entender que essa já não é a moeda de troca para garantir o apoio do partido. “Os madeirenses e porto-santenses devem ficar descansados”, disse, porque “mesmo que Miguel Albuquerque insista em ser presidente do Governo” Regional já “não tem maioria parlamentar”. “Isso faz com que consigamos aprovar as nossas propostas e ter uma fiscalização muito mais apertada”.
No final do encontro, em nome do Governo da Madeira, o secretário da Educação, Ciência e Tecnologia, Jorge Carvalho, um dos braços direitos de Albuquerque, enalteceu a disponibilidade de todos os partidos para o diálogo. Para já, foram agendadas novas negociações para quarta (PAN e IL) e quinta-feira (Chega e CDS-PP).
Horas antes, o Representante da República na Madeira deixou um recado aos partidos: a crise política é para ser resolvida na Assembleia Regional. Ireneu Barreto descartou eleições antecipadas através de um argumento legalista, uma vez que “nunca poderá ser o Representante da República” ou o Presidente da República a “retirar consequências políticas” da rejeição do programa do governo porque o Estatuto Político da região é omisso perante aquele cenário. Com as ausências de Juntos Pelo Povo e PS (que recusaram marcar presença nas reuniões) o Chega perfila-se como o único partido com capacidade para resolver a ingovernabilidade da região.
O Representante da República voltou ainda a justificar a indigitação de Albuquerque com as garantias de estabilidade que recebeu por parte dos partidos. “Houve quem tivesse mudado” de posição, disse, visando o Chega.
Jardim dá o tom nas críticas a Albuquerque
Enquanto a reunião decorria, Alberto João Jardim voltou a criticar Albuquerque: “Não é sério, nem competente, fazer ‘negociações’ sem discrição e sem separação, ‘ao molho’ para a foto e para ‘levar’ bem-intencionados”, escreveu na rede social X.
O líder histórico do PSD-M, que apoiou Manuel António Correia nas últimas internas, tem vindo a condenar a postura assumida pelo partido e já defendeu a saída de Albuquerque do governo. “É desprestigiante para a Madeira, a Autonomia e o PSD, assembleias à Putin com ‘unanimidades’ de dependentes receosos”, acrescentou.
A posição de Jardim revela o desconforto da oposição interna com Albuquerque. Apesar da postura cautelosa desde o início da crise política, Manuel António Correia pronunciou-se pela primeira vez no domingo para demonstrar preocupação com o rumo do partido. “O cerne do problema não está nos militantes nem no partido em si, mas na liderança que se recusa a reconhecer que este não é o caminho adequado”, atirou, em comunicado, o antigo secretário regional nos tempos do jardinismo que obteve 45% dos votos na disputa interna realizada em Março. “É preciso começar uma nova era”.
Os avisos foram manifestados na sequência do Conselho Regional do PSD, em que Miguel Albuquerque subiu de tom nas críticas aos partidos e opositores internos e prometeu que não vai abandonar a liderança do Governo Regional. “Há uns tipos que são muito bons, o tipo é espectacular, é a salvação da Madeira, mas nunca ganhou sequer uma eleição para o prédio do condomínio”. A Madeira continua num impasse.